A crise diplomática gerada pela aceitação do asilo de Julian
Assange pelo Equador reflete as novas condições do mundo contemporâneo. Em
primeiro lugar, porque as mídias alternativas conseguiram grande vitória sobre
o segredo diplomático das grandes potências, logrando colocar à disposição da
opinião pública mundial mais de 5 mil documentos até ali considerados secretos.
Por Emir Sader*, em seu blog
Em segundo lugar, porque ao tentar fazer recair sobre o
principal responsável por essa divulgação, Julian Assange, o peso da repressão
e da censura, se viram às voltas com a solidariedade do governo do Equador, dos
governos latino-americanos e de várias outras forças da própria Europa. Não
puderam evitar, apesar das bravatas do governo britânico, o asilo de Assange na
Embaixada do Equador e ainda tem que sofrer a campanha de protestos pela sua
atitude e a favor do salvo-conduto que Assange necessita para seguir para o
Equador.
Em terceiro lugar, um país progressista latinoamericano não
apenas peitou o governo britânico, como aparece como território de abrigo de
alguém que passou a representar a liberdade de expressão no mundo, enquanto que
a Grã Bretanha aparece como seu perseguidor.
Em quarto lugar, a Grã Bretanha, com a atitude do seu
governo, já é e continuará sendo objeto de campanhas no seu próprio país e em
vários outros países do mundo, pela liberdade de Assange e contra a atitude do
governo britânico.
Ao tomar a atitude que toma, o governo da Grã Bretanha faz
uma aposta muito perigosa: a de ter que suportar, por tanto tempo quanto
pretenda retardar o salvo-conduto para Assange, campanhas mundiais contra sua
posição e a favor de Assange.
Se juridicamente o governo britânico pode retardar por um
tempo indefinido a saída de Assange da embaixada equatoriano na direção do país
que lhe concedeu asilo, a questão será decidida pelo grau de desgaste que a Grã
Bretanha está disposta a sofrer por essas campanhas. Ela pode sustá-las
concedendo de imediato o salvo-conduto a Assange ou ter que finalmente
concedê-lo, quando esse desgaste já tenha se dado por um tempo mais ou menos
longo.
Seja qual for o desfecho da situação, a Grã Bretanha – e,
com ela, os EUA - saem perdedores, enquanto o Equador, a América Latina e
Assange, sairão vencedores. Porque representam a liberdade de expressão, as
formas alternativas de mídia, a ruptura de mecanismos de de diplomacia secreta.
Sinais de que os tempos mudaram no mundo. E, neste caso,
para melhor.
* Emir Sader é cientista político e professor da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
(FFLCH-USP). É secretário executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências
Sociais (Clacso) e coordenador geral do Laboratório de Políticas Públicas da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj)
Nenhum comentário:
Postar um comentário